2019
Cesar Callegari
A declaração do presidente Bolsonaro e seu ministro da educação anunciando o corte de verbas para custeio das escolas isoladas dos assentamentos de trabalhadores rurais sem terra é criminosa, merece veemente repúdio e exige ação imediata do sistema de justiça. E de todos nós.
Cerca de 200 mil crianças são atendidas por milhares de escolinhas localizadas na zona rural em lugares afastados das cidades. Muitas delas não passam de classes onde um ou dois professores atendem, ao mesmo tempo, crianças dos quatro aos 14 anos. Geralmente são valorosas professoras das redes públicas que precisam ser trazidas das cidades e vilarejos todos os dias.
Cortar as verbas para custeio dessa atividade significa deixar essas crianças sem nenhuma opção. É privá-las do seu direito constitucional à educação. Isso é crime. É dever do Estado e das famílias garantir educação básica. Está na Lei. Governantes que descumprem essa obrigação podem e devem ir para a cadeia.
Na sua sanha de criar e tentar massacrar seus inimigos ideológicos internos, o governo Bolsonaro, em covardia repugnante, não hesita em ameaçar crianças. Trata-se de uma provocação infame.
O que faz o Ministério Público diante desse ataque? Onde estão os juízes da infância?
O presidente que agora agride crianças pobres e suas famílias é o mesmo que há poucos dias apresentou um Projeto de Lei autorizando a Educação Domiciliar com a clara intenção de permitir que seitas e organizações ultraconservadoras e de extrema direita formem e doutrinem seus quadros “puros”, desobrigando a matrícula de suas crianças em escolas. É o mesmo que defende a “lei da mordaça” contra professores, que ataca as universidades públicas e que sufoca a cultura. É a mesma figura patética que quer acabar com os cursos de filosofia e sociologia.
É o mesmo presidente do Brasil que há poucos dias se agachava vergonhosamente diante de um Donald Trump e dos interesses norte-americanos.
Espero que a sociedade reaja e que uma barbaridade como essa não prospere. Mas serei o primeiro a, humildemente, me oferecer para dar aulas para esses meninos e contribuir com dinheiro para que o seu direito à educação seja garantido.